Biografia
Álvaro
de Campos nasceu em Tavira em 15 de
Outubro de 1890 Depois de
"uma educação vulgar de liceu" Álvaro de Campos foi "estudar
engenharia, primeiro mecânica e depois naval" em Glasgow, realizou uma viagem ao Oriente, registrada
no seu poema "Opiário", Ensinou-lhe latim um
tio beirão que era padre e
trabalhou em Londres, Barrow
on Furness e Newcastle on Tyne (1922). Desempregado, teria voltado para
Lisboa em 1926, mergulhando então num pessimismo decadentista. Álvaro de Campos é alto (1,75 m de
altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara
rapada entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém,
liso e normalmente apartado ao lado, monóculo.
Perfil literário
Álvaro
de Campos também é conhecido pela expressão de uma angustia intensa, que sucede
seu entusiasmo com as conquistas da modernidade. É possível verificar que
existiram três fases na escrita de Campos: a primeira, a decadentista, é a que
mais se aproxima da poesia de final do século; a segunda, a modernista,
corresponde à experiência de vanguarda iniciada com Orpheu; e a terceira é a
negativista, na qual a angústia de existir e ser, mais está evidenciada e radicalizada.
Na primeira fase o poeta exprime o tédio, o cansaço e a
necessidade de novas sensações. Esta fase expressa-se como a falta de um
sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia, com preciosismo,
símbolos e imagens apresenta-se marcado pelo Romantismo e pelo Simbolismo. Enquanto
na segunda Álvaro de Campos celebra o
triunfo da máquina e da civilização moderna. A “Ode
Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo
desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há
a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna.
,
Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si
mesmo, angustiado e cansado. Como temáticas destacam-se: a solidão interior, a
incapacidade de amar, a descrença em relação a tudo, a nostalgia da infância, a
dor de ser lúcido, a estranheza, a perplexidade a dissolução do “eu”, a dor de
pensar e o conflito entre a realidade e o poeta.
O
cansaço
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Heterônimo de Fernando Pessoa: Álvaro
Campos
Analise da obra
Nesse poema ele fala do
cansaço assumido como coisa em si mesma, um cansaço com tudo o que o rodeia,
pois este já deixou de ser uma condição mas sim a forma como vive, a repetição
da palavra cansaço serva para transmitir esse mesmo sentimento ao leitor . Campos
também enumera coisas que todos perseguem - as sensações, as paixões, o amor -
e diz que todas elas falham em significado. Ironiza com aqueles que pretendem
ter maiores pretensões do que aquelas que ele acha possíveis. Na terceira parte do poema, o sujeito
poético compara-se a aqueles que não sentem tédio face à vida. O poeta ironiza
mesmo com os que aspiram a coisas que, para o “eu”, são impossíveis. O
poeta tem outra atitude que transcende tais limites: ou seja, quer tudo no
nada, quer a compreensão subtil do desconhecido. A quarta estrofe do poema funciona como uma espécie de conclusão.
Para as outras pessoas há algo que as faz viver e sonhar de forma equilibrada
para o sujeito é bem diferente pois o fato de não ser compreendido e de não
atingir os seus desejos traduz-se num “supremíssimo cansaço” O poeta encontra uma razão
para tal fraqueza – a incapacidade das realizações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário