Perfil
literário de Augusto dos Anjos
Augusto dos Anjos possui um caráter sombrio
e enigmático. No entanto seus poemas têm influências de varias estéticas entre
elas a do simbolismo, naturalismo e ecos do Parnasianismo por isso deve ser
visto como um fenômeno isolado mesmo que seu livro tenha sido publicado no
Pré-modernismo.
Suas poesias contem divagações metafísicas e
a expressão de uma angustia existencial no seu soneto mais conhecido ele
dirigiu-se aos leitores para afirmar a impossibilidade de uma feliz. O amor,
tão caro aos românticos, é visto com ceticismo pelo autor, pois ele buscava
retratar a realidade daquela época por mais que fosse de forma negativa.
Na linguagem ele utiliza a ciência para melhor
definir suas preocupações com a origem da angustia moral. Por isso seus versos
apresentam termos como psicogênese, trama neural, carbono, sinergia, entre
outros. Por essa razão muitos críticos destacaram o mau gosto do vocabulário
como um dos defeitos do autor.
Poema:
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e retilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A infância mà dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca de uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme- este operário da ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e retilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A infância mà dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca de uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme- este operário da ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Analise
do poema
O poema descreve as ações do eu e do verme.
O eu somatiza o drama existencial, enquanto o verme arquiteta silenciosamente a
destruição final do eu. O vocabulário científico, tomado principalmente à
química e as imagens repulsivas reforçam a natureza perecível e finita do
homem. Segundo o mesmo, tudo fatalmente se arrasta para o mal e para o nada.
Nesse poema Augusto dos Anjos mais uma vez revela a sua negatividade
existencial revelando que todo o ser humano sucumbirá na decomposição do corpo,
mas que o ser humano de certa forma não aceita esse fim. Revela através do
poema que para ele há apenas a dimensão material, não acreditando em alma ou
espírito.
Os sentimentos presentes no poema são:
tristeza, pessimismo, repugnância, dor, conformismo, angústia, materialismo e
pavor da morte.A primeira estrofe o eu-lirico demonstra que é filho da matéria
simples, que sofrerá do começo ao fim e até mesmo o universo conspira contra o
seu favor. Sendo que na segunda estrofe
o poeta parece estar em um hospital que represente o mundo, um ambiente onde há
tristeza e que tem muitas pessoas que desconhecem sua própria dor, e tentam justificar
seu infeliz fim.Enquanto na terceira e
quarta estrofe ele descreve o verme e informa uma pequena guerra entre a vida e
o verme, mas que no fim o verme ganhará ao informar que o mesmo “há-de
deixar-me apenas os cabelos,” verso presente na quarta estrofe.
Biografia
de Augusto dos Anjos
Augusto dos Anjos (1884-1914) nasceu no engenho
"Pau d'Arco", na Paraíba. Filho de Alexandre Rodrigues dos Anjos e de
Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos. Recebeu do pai, formado em Direito, as
primeiras instruções. Augusto dos Anjos ingressa na Faculdade de Direito do
Recife em 1903 e em 1907, formado em Direito, retorna a João Pessoa, capital da
Paraíba, onde passa a lecionar Literatura Brasileira, em aulas particulares. Nesse mesmo ano casa-se com Ester Fialho e
muda-se para o Rio de Janeiro. Durante sua vida, publica vários poemas em
jornais e periódicos. Em 1912 publica seu único livro "EU", que
causou espanto, nos críticos da época, diante de um vocabulário grotesco, na
sua obsessão pela morte: podridão da carne, cadáveres fétidos e vermes
famintos. Em 1914, Augusto dos Anjos é nomeado Diretor do Grupo Escolar Ribeiro
Junqueira, em Leopoldina, Minas Gerais, para onde se muda. Nesse mesmo ano,
depois de uma longa gripe, é acometido de uma pneumonia. Augusto de Carvalho
Rodrigues dos Anjos morre em Leopoldina, Minas Gerais, no dia 12 de novembro de
1914.